domingo, 15 de agosto de 2010

Galeria de arte 14


Tua nudez
Manuel Bandeira
 
A rosa:
Tua nudez feita graça.
A fonte:
Tua nudez feita água.
A estrela:
Tua nudez feita alma.
 

♠♠♠

O Fotógrafo

Galeria de arte 13


NA NUDEZ DO TEU CORPO
DE FRENTE AO MEU
PERCEBO A NUDEZ DE TUA ALMA TAMBÉM
DESPE-SE DE TODO E QUALQUER PUDOR
PARA COMIGO, FAZER AMOR...
 

SEI QUE GOSTAS DA NUDEZ
ELA TE ACOMPANHA
DESDE TEMPOS IDOS, É NATURISTA
A NUDEZ TE SATISFAZ
COMO PORTA ABERTA, PARA ALGO MAIS...
 

NA NUDEZ ENCARNADA EM TEUS VERSOS
ENCONTRO TUA ALMA E CORPO EM DESEJO LOUCO...
VOCÊ DIZ, QUE ME DESEJA EM TUA CAMA,
O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL...
E CONCORDO QUE ASSIM SEJA...
VAMOS ENFIM CONCRETIZAR,
OS VERSOS QUE ENVIA PARA MIM...
E SABERÁ O SABOR,
DA PELE DESSE HOMEM
E TUDO MAIS QUE QUISER...
 

EXPERIMENTARÁ TAMBÉM,
A NUDEZ DE CORPO, E ALMA,
DESSE HOMEM, QUE TANTO VOCÊ QUER...
ESPERO QUE ME VEJA COMO UMA PEDRA RARA
PORQUE ASSIM EU SOU:
BEM DIFERENTE DE OUTROS HOMENS
QUE EXPERIMENTOU...
MINHA MENTE É LIBERAL
MEU CORPO, BEM NORMAL
MAS A SENSUALIDADE
ME FAZ MAIS MASCULINO
EM MINHA FACE, DE HOMEM-MENINO...
 

COMPREENDERÁ A LOBO OU LEAO
COMO QUISER ME CHAMAR...
ESSA ÂNSIA TÃO GRANDE,
QUE TENHO... EM AMAR...
 

SE PERDERÁ NA MINHA NUDEZ,
ASSIM COMO EU, NA TUA...
E NA CAMA, FAREMOS TUDO
SEGUINDO OS INSTINTOS,
OS SENTIDOS,
AS VONTADES...
SEMPRE PERSEGUINDO O PRAZER,
QUE PODEMOS CONSEGUIR JUNTOS:
EU E VOCÊ...
 

♠♠♠

O Fotógrafo
 

Galeria de arte 12


Nudez 
Carlos Drummond de Andrade

Não cantarei amores que não tenho,
e, quando tive,
nunca celebrei.
 

Não cantarei o riso que não rira
e que, se risse,
ofertaria a pobres.
 

Minha matéria é o nada.
Jamais ousei cantar algo de vida:
se o canto sai da boca ensimesmada,
é porque a brisa o trouxe, e o leva a brisa,
nem sabe a planta o vento que a visita.
 

Ou sabe? Algo de nós acaso se transmite,
mas tão disperso, e vago, tão estranho,
que, se regressa a mim que o apascentava,
o ouro suposto é nele cobre e estanho,
estanho e cobre,
e o que não é maleável deixa de ser nobre,
nem era amor aquilo que se amava.
 

Nem era dor aquilo que doía:
ou dói, agora, quando já se foi?
Que dor se sabe dor, e não se extingue?
Não cantarei o mar: que ele se vingue
de meu silêncio, nesta concha.)
Que sentimento vive, e já prospera
cavando em nós a terra necessária
para se sepultar à moda austera
de quem vive sua morte?
 

Não cantarei o morto: é o próprio canto.
E já não sei do espanto,
da úmida assombração que vem do norte
e vai do sul, e, quatro, aos quatro ventos,
ajusta em mim seu terno de lamentos.
Não canto, pois não sei, e toda sílaba
acaso reunida
a sua irmã, em serpes irritadas vejo as duas.
 

Amador de serpentes, minha vida
passarei, sobre a relva debruçado,
a ver a linha curva que se estende,
ou se contrai e atrai, além da pobre
área de luz de nossa geometria.
 

Estanho, estanho e cobre,
tais meus pecados, quanto mais fugi
do que enfim capturei, não mais visando
aos alvos imortais.
 

Ó descobrimento retardado
pela força de ver.
 encontro de mim, no meu silêncio,
configurado, repleto, numa casta
expressão de temor que se despede.
 

O golfo mais dourado me circunda
com apenas cerrar-se uma janela.
 

E já não brinco a luz. E dou notícia
estrita do que dorme,
sob placa de estanho, sonho informe,
um lembrar de raízes, ainda menos
um calar de serenos
desidratados, sublimes ossuários
sem ossos;
a morte sem os mortos;
 

o perfeito
anulação do tempo em tempos vários,
essa nudez, enfim, além dos corpos,
a modelar campinas no vazio
da alma, que é apenas alma, e se dissolve.
 

♠♠♠

O Fotógrafo

Galeria de arte 11


Horacio Xavier

Sempre nú
Como a lucidez da fruta
Crua.


Tranqüilo/mente nua
Sem a insensatez da dúvida
Tua.
 

Nú simples/mente nua
Tal qual a luz da pele
Flua. 
 

Nú/mente nua
Seja qual for a flor
Pura. 
 

Que flua, crua
Tua pura nudez.
 

Só um homem todo nu
Pode acreditar em algo,
Num pássaro azul, em deus
Numa coisa irreversível....
 

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O Fotógrafo

Galeria de arte 10


Pleno esplendor
Raimundo Correia
 
Eu amo os gregos tipos de escultura:
Pagãos nús no mármore entalhados;
Não essas produções que a estufa escura
Das modas cria, tortas e enfezadas.
 

Quero um pleno esplendor, viço e frescura
Os corpos nus; as linhas onduladas
Livres: de carne exuberante e pura
Todas as saliências destacadas...
 

Não quero, o Eros opulento e belo
De luxuriantes formas, entrevê-lo
De transparente túnica através:
 

Quero vê-lo, sem pudor, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, detalhes
Nus... todo nú, da cabeça aos pés!
 

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O Fotógrafo

Galeria de Arte 9


Elogio da Nudez
Armindo Trevisan
 
Quando o vejo nu,
carne e tamanho apenas,
sofrendo a garra de algo
que não tenho, nem me afaga
 

Sinto por dentro um silencio
Que me deixa inda mais nu!
Quando te vejo nu
 

ao sol que me rói, parado
ao sal que me entra na vida,
ao ar que me desnuda a alma
 

Fico no mundo sem par,
Desejando me enterrar


Ah que desnudez faminta!
no banheiro, sobre o leito,
em qualquer parte do mundo,
onde se deixe tua roupa


É o próprio medo do homem,
que aparece sobre a pele
 

Mas é tão bom , delicioso
O jôrro de água, o unguento
O perfume, a relva, a seda
De outra carne inda mais nua
 

Que o terror é esquecido
Por um instante florido!
 

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O Fotógrafo

Galeria de arte 8


O homem nú
Juan Ramón Jiménez

Humano fonte belo,
repuxo de delícia entre as coisas,
terno, suave água redonda,
homem nú: um dia,
deixarei de te ver,
e terás de ficar
 

sem estes assombrados olhos meus,
que completavam tua beleza plena,
com a insaciável plenitude do seu olhar?


(Estios; verdes frondas,
águas entre as flores,
luas alegres sobre o corpo,
calor e amor, homem nú!)


Limite exacto da vida,
perfeito continente,
harmonia formada, único fim,
definição real da beleza 
 

homem nú: um dia,
quebrar-se-á a minha linha de homem,
terei que difundir-me
na natureza abstrata;
 

não serei nada para ti,
árvore universal de folhas perenes,
concreta eternidade!
 

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O Fotógrafo